Javalis continuam a causar estragos na região e agricultores reclamam mais apoios
Provocam prejuízos e estragos na agricultura, destroem o património, causam acidentes rodoviários e chegam até a atacar pessoas. Os javalis continuam a dar ‘dores de cabeça’ aos agricultores do distrito que querem ser recompensados com apoios justos pelos estragos e danos causados por aquela espécie, que se multiplica no concelho de Porto de Mós e em algumas zonas no distrito.
O presidente da União dos Agricultores do Distrito de Leiria (UADL), Joaquim Avelino admitiu ao nosso jornal que só o ano passado, contabilizou cerca de cinco mil euros de prejuízos nos seus terrenos, onde predomina essencialmente, o milho. Este ano, o responsável contabilizou já mais de mil euros, mostrando-se preocupado com os danos que continuam a ser “avultados”.
Apesar de, atualmente, não lhe serem apresentadas tantas queixas de agricultores, Joaquim Avelino esclarece, ainda assim, que alguns se dirigem à sede da associação em Porto de mós para reclamar dos prejuízos.
Na perspetiva do responsável, deveria ser permitido colocar “armadilhas nos milheirais” por forma a “espantar” a espécie, tendo em conta que é o que mais atacam.
Joaquim Avelino deu o exemplo dos “canhões” que servem, essencialmente, para afugentar os javalis. “Os canhões dão o tiro de cinco em cinco minutos e espanta-os”, esclareceu, acrescentando que a zona de caça deveria ser alargada para “combater a espécie”, mas, alertou “sem prejudicar os agricultores”. “Por norma, quando eles fazem alargamento da caça, vão para a zona dos milheirais e depois acabam por estragar”, salientou.
Joaquim Avelino considera que o problema dos javalis é crítico no concelho de Porto de Mós, mas estende-se a muitos concelhos do distrito, como são os casos de Leiria, Ansião e Pombal. “Não é só o javali, o texugo também prejudica bastante e faz tanto estrago como o javali”, alertou o responsável.
A predominância de javalis no distrito é um dos problemas que a associaçao procura combater, mas, admite, o ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas “devia colaborar” com mais apoios justos, dependendo dos “estragos”.
“Eles rebentam com tudo, é uma coisa impressionante”, começou por dizer - preocupado - o presidente da Câmara de Porto de Mós, Jorge Vala.
Autarca preocupado com prejuízo crescente
Adiantou ainda que os Muros de Pedra Seca, característicos do concelho, têm sido destruídos.
“Eles comem caracóis e para irem à procura derrubam os muros de pedra seca”, lamentou o autarca, dando conta que o rasto de destruição começou a intensificar-se na altura da covid-19, pela ausência do “ajustamento da espécie”.
Considerando a espécie uma “praga”, o autarca esclareceu que o município procedeu junto do ICNF na tentativa de “prolongar o tempo das batidas”, pois, ressalvou, “no parque natural é tudo muito condicionado”. “As montarias são caríssimas por causa das matilhas dos cães. Os cães treinados custam muito dinheiro e a montaria nem sempre é bem sucedida e, como se sabe, abater sete ou oito animais tem um custo muito significativo. Também não é isso que vai ajustar ou reduzir a espécie, porque é uma espécie de produção intensiva”, lamentou.
Jorge Vala realçou ainda que os campos agrícolas em Alqueidão da Serra, São Bento, Serro Ventoso, Arrimal e Mendiga, onde o milho predomina, acabam por ser os mais prejudicados. “As pessoas deixaram de produzir milho, porque não vale a pena (…) os próprios agricultores desmotivam”, lamentou, defendendo uma “ação concertada” entre as organizações locais.
“As próprias organizações locais têm receio, porque existem outras organizações que são contra o ajustamento da espécie que tem prevalecido (...) Ninguém quer que a espécie se extinga, mas neste momento está disseminada por todo o lado e com graves prejuízos para o património e, em simultâneo, com consequências que começam a ser preocupantes”, destacou.
“Temos relatos de pessoas que dizem que os javalis já vieram à vila. (…) Na serra, há vários relatos de milhares de euros de prejuízos com acidentes de carro”, exemplificou.
O Diário de Leiria sabe que, recentemente, numa aldeia da freguesia de Aljubarrota, no concelho de Alcobaça, um javali de grande porte chegou mesmo a atacar um homem, numa zona florestal junto a habitações, tendo-lhe provocado ferimentos ligeiros e obrigando-o a subir a uma árvore para se proteger.
Contactado pelo nosso jornal, o presidente de Junta da Freguesia de Aljubarrota, José Lourenço, adiantou já ter ouvido relatos do aparecimento de javalis em várias aldeias da freguesia e de estragos na agricultura provocados pela espécie.
O Diário de Leiria contactou também o município de Alcobaça que também abrange a Serra de Aire e Candeeiro, que disse não ter reporte de danos causados por javalis no concelho.