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Opinião

Vamos às escolas ensinar a envelhecer? – educar para o envelhecimento como uma emergência nacional

Setembro 13, 2024 . 18:33
O Conhecimento ao Serviço da Sociedade - Politécnico de Leiria

A esperança de vida está a aumentar em todo o mundo. Infelizmente, as pessoas não estão preparadas para esta longa vida e têm atitudes idadistas (preconceituosas sobre a idade) que inibem a vivência deste "dividendo da longevidade".

A educação para o envelhecimento pode preparar as pessoas para os últimos anos da vida e combater as ideias erradas sobre esta fase do ciclo de vida. Em 1982, a Unesco publicava um relatório que iria marcar a concetualização do envelhecimento a partir daquela data. O relatório intitulava-se “The UNESCO Courier, a window open to the world” e abria janelas muito importantes de discussão para esta matéria: o papel da família, da comunidade e dos mais jovens no envelhecimento; o gap geracional; envelhecer em cada cultura; envelhecer cronologicamente, que significado; entre outros temas disruptivos numa sociedade envelhecida. Estava assim criado um novo e interessante horizonte no desenho da fórmula do envelhecimento, na qual a comunidade – numa representação pelos mais jovens - assume um papel determinante. Também neste relatório se equacionou a visão distinta dos países industrializados na educação formal e não formal dos mais jovens em relação à pessoa idosa. Desde esta data já seria visível a distinta visão de um “idoso frágil” (em países industrializados) ou de “alguém ancestral, de sabedoria reconhecida” (em países subdesenvolvidos). Existia assim, pela primeira vez, uma separação visível sobre o envelhecimento entre culturas!

Apesar da importância deste relatório, o facto é que apenas em 2014, um grupo de investigadores turcos apresenta na Conferência Mundial da Educação um novo estudo na área, concluindo que o facto de os alunos não receberem qualquer tipo de educação sobre o envelhecimento nas escolas, leva as crianças a interiorizar os preconceitos da sociedade e a equacionar deliberadamente o preconceito de idade. Neste estudo é declarada a necessidade de educar sobre o tema desde a primeira infância (5-7 anos), a fim de consciencializar as crianças de conhecimentos positivos sobre (e atitudes positivas acerca) do envelhecimento.

Três anos mais tarde, em 2017, a investigadora Sandra McGuire, na Universidade de Tenesse, publica um trabalho de opinião científica que equaciona o envelhecimento como um momento de crescimento, desenvolvimento e realização contínuos. Neste documento, a investigadora assinala a problemática da educação para o envelhecimento, por não ser erradamente uma ocorrência comum. A autora declara neste documento que esta educação tem de começar pelas crianças e continuar ao longo da vida.

Assistindo proativamente a esta perspetiva revolucionária, a Escócia inicia, em 2023, um percurso para a introdução de um kit educativo sobre a aprendizagem para a demência nas escolas primárias. Não se trata de um estudo ou de uma experiência em particular, mas sim da introdução de um novo curriculum educativo em todas as escolas primárias deste país. Se para uns a Escócia é conhecida pela tradição musical ou pelo instrumento da gaita de foles, para nós, que investigamos e intervimos no envelhecimento digno e feliz, este país é o nosso exemplo, aquele que queremos reproduzir em Portugal e nas suas escolas.

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