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Opinião: A memória coletiva através de um período temporal?! (VII)

Novembro 4, 2024 . 14:38
"Não se pode ignorar a existência de núcleos e mesmo museus particulares. Não são apenas os grupos de folclore que têm o dever de constituir museus etnográficos"

Normalmente existe a tendência para os grupos de folclore constituírem museus etnográficos que representam a área territorial onde estão inseridos. Havendo um museu em determinada área com essas características, não faz sentido constituir outro ou manter mais que um numa região geograficamente pequena, mesmo em freguesias vizinhas. Nessa situação, é preferível criar novos espaços temáticos, de preferência relacionados com uma atividade que tenha sido característica dessa região. Até porque, já existem muitos museus que, na realidade, são etnográficos, embora intitulados doutra forma, como os diversos museus existentes em Portugal Continental e Insular com a temática do vinho e da vinha, entre outros temáticos, que não deixam de ser etnográficos, como o Museu Escolar de Marrazes (Leiria), o Moinho do Papel (Leiria), o Agromuseu Municipal Dona Julinha (Ortigosa), ou mesmo o do Tabaco na Ribeira Grande (ilha de São Miguel, Açores), ou ainda o Museu da Chapelaria, em São João da Madeira ou o Museu Nacional Ferroviário, Entroncamento, entre muitos e muitos outros.
Dando um exemplo, faz sentido criar o Museu Etnográfico da Telha, numa zona territorial onde tenham existido cerâmicas. Faz sentido criar o Museu Etnográfico do Sapateiro, do Calceteiro, do Ferreiro, da Tecedeira, do Moleiro, do Pastor, do Carpinteiro, do Mineiro, do Milho, do Trigo, da Beterraba, etc., etc.
Resumindo, cada região pode ter um Museu Etnográfico global, onde se consiga identificar os seus costumes, as suas tradições e as suas vivências e depois constituir Museus temáticos e que não sejam tão genéricos, mas que possam apresentar uma determinada área etnográfica evitando a repetição e que seja um complemento museológico perante os já existentes.
Todavia, não se pode ignorar a existência de núcleos e mesmo museus particulares. Não são apenas os grupos de folclore que têm o dever de constituir museus etnográficos. O Folclore é a mais-valia para a constituição dos mesmos, mas não é a unanimidade do conceito nem da respetiva estruturação e instrumentalização destes núcleos.
Contudo, seja quem for o proponente que constitua um museu, nunca deve ignorar os grupos de folclore em seu redor, visto que são estes que têm a melhor recolha e base da identidade local, que necessita de ser estruturada, globalizada, partilhada e divulgada através da possível existência de uma Rede de Museus Etnográficos.
Ora, a base para que um museu etnográfico possa ser um pólo de atracção turística começa na união de esforços entre as autarquias locais, os museus etnográficos e o setor turístico. União que nos últimos tempos se tem desfigurado da identidade local, principalmente no continente português.
A aproximação entre estas três entidades apenas trará benefícios, devendo a mesma ser bem definida, principalmente entre Museus e Turismo, visto que as autarquias locais, de alguma forma, mais ou menos relevante, vão desenvolvendo o papel de apoio aos museus etnográficos, como sublinha Alexandra Rodrigues Gonçalves, da Universidade do Algarve, ao defender que “a partilha de conhecimento entre estes dois poderes – o turismo e os museus – será fundamental para o diálogo entre estas áreas”.
O Turismo, cada vez mais, tem um papel importante na promoção dos museus etnográficos, devendo inserir estes nas rotas organizadas e direcionadas para um determinado público turista, que além do reconhecimento, permitirá uma maior sustentabilidade cultural.
Sendo importante sensibilizar os agentes turísticos de que o futuro da indústria do Turismo vai além dos recursos ambientais e monumentais, sendo que a promoção e divulgação do património etnográfico também poderá ser um elo importante na promoção de uma região ou mesmo do país.
Esta ideia foi defendida por Jansen-Verbeke, em 1999, ao salientar que “o património cultural contribui para um ambiente favorável para a incubação e desenvolvimento de projectos turísticos, que podem criar condições para a inovação e diversificação dos produtos turísticos e dos destinos, respondendo a novas necessidades do mercado turístico”.
Por outro lado, Ashworth considera que se deve ter em conta que “a natureza do conceito de cultura confere-lhe alguma ubiquidade, pois todos os locais têm uma história e um passado. É difícil definir estratégias assentes em recursos culturais e patrimoniais naqueles locais que não reúnam condições de verdadeira distinção”. (Continua)

Novembro 4, 2024 . 14:38

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