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Primeiras trutas assilvestradas foram libertadas na ribeira de Alge

Segundo o investigador Carlos Alexandre, foram também fornecidos refúgios às trutas, semelhantes aos que têm na natureza, introduzindo alimento vivo e assegurando o “mínimo contacto com o ser humano”

As primeiras trutas assilvestradas criadas no Posto Aquícola de Campelo, em Figueiró dos Vinhos, foram libertadas, na ribeira de Alge, afluente do rio Zêzere, constituindo uma “mudança de paradigma” nas ações de repovoamento, revelou um investigador.
“É importante, porque é a primeira libertação dos indivíduos desta espécie, das trutas de rio, produzidas de uma forma completamente distinta daquilo que é a produção tradicional destas trutas, mesmo quando é feita para ações de repovoamento”, disse à agência Lusa o investigador Carlos Alexandre, da Universidade de Évora e do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.
Carlos Alexandre declarou que, apesar serem menos de uma centena os animais libertados neste primeiro ano, têm, contudo, “maior probabilidade de sobrevivência”, porque foram produzidos com condições muito próximas daquilo que vão encontrar na natureza.
Referindo que se tentou recriar uma densidade com menos animais, o investigador explicou que foram também fornecidos refúgios, semelhantes aos que têm na natureza, introduzido alimento vivo e assegurado o “mínimo contacto com o ser humano”.
“Aquilo que achamos, e estamos a validar isso com as nossas experiências mais científicas, é que estes animais quando chegam à natureza são menos animais, mas têm uma maior probabilidade de sobrevivência. É neste sentido que esta libertação e estes animais que são produzidos em Campelo neste momento são importantes. Podemos assumir isto como uma mudança de paradigma naquilo que são as ações de repovoamento e a promoção do seu sucesso”, destacou.
A monitorização dos animais libertados na natureza é feita através de um ‘chip’.
“Estes animais foram marcados com um ‘chip’ semelhante àquilo que se se coloca nos cães e nos gatos”, afirmou, referindo que, “uma vez recapturado o animal”, permite “identificar exatamente aquele indivíduo, de onde é que ele provém, o comprimento que ele tinha quando foi libertado, quanto é que cresceu, para onde se movimentou”. Carlos Alexandre adiantou que este trabalho será feito, “a breve trecho, com amostragens com pesca elétrica”, e no futuro com colocação de antenas no rio a “monitorizar o comportamento dos animais”.Segundo o investigador, a libertação das trutas assilvestradas ocorreu apenas em Alge, a primeira ribeira em que está a ser desenvolvido o trabalho, situada próxima do posto aquícola.Carlos Alexandre esclareceu que, entretanto, foi reforçado o “lote de reprodutores com animais provenientes” daquela ribeira, referindo que, em dezembro ou janeiro, mas dependendo da evolução da temperatura da água, “os animais vão atingir a maturidade sexual” e vai poder ser feita, novamente, uma ação de desova.
“O que se segue é um novo ciclo de desova e produção destas trutas, que depois, novamente em setembro, outubro, vão ser libertadas e, esperamos nós, num número muito mais significativo”, anteviu.
Sobre os locais de libertação das trutas, o investigador sustentou que há vários anos que a ribeira de Alge é monitorizada, pelo que se sabe “exatamente quais os locais mais indicados para libertar animais”, aqueles “com características adequadas em termos de ‘habitat’, mas que não têm a quantidade de trutas que deveriam ter”. Este responsável acrescentou que, “depois de otimizado o procedimento e validado este novo processo de produção de trutas, o objetivo é transformar o Posto Aquícola de Campelo num verdadeiro centro de reabilitação dos ecossistemas ribeirinhos”. “O objetivo principal é tornar-se num centro de investigação e de restauro destas populações piscícolas”, frisou, destacando que na parceria “muito frutífera” com a Câmara de Figueiró dos Vinhos (no distrito de Leiria) esta pretende também criar um centro interpretativo. O propósito “é manter a produção dos animais da ribeira de Alge, mas alargar a outras bacias hidrográficas, onde estas populações de truta tenham efetivos mais reduzidos”, assim como a produção no posto de Campelo de “outras espécies piscícolas que estejam em situação também de ameaça e que mereçam ser alvo de programas de repovoamento”, como o salmão, precisou o investigador da Universidade de Évora e do MARE.
De acordo com Carlos Alexandre, o posto tem capacidade “para produzir qualquer espécie piscícola de água doce” que se entenda dever ser alvo de ações de repovoamento.
“Este trabalho, além da proteção da espécie, da melhoria das populações da espécie, tem muito aqui também a perspetiva da promoção da pesca recreativa que lhe é dirigida, mas feita de forma mais sustentável, numa perspetiva de pesca sem morte”, notou ainda o investigador.
O Posto Aquícola de Campelo, gerido pela Câmara Municipal, foi adaptado para criação experimental de trutas assilvestradas após um investimento de cerca de um milhão de euros, aprovado em 2020.
Fonte da autarquia explicou que o projeto e conteúdos para o centro interpretativo, para mostrar e divulgar o trabalho desenvolvido, e que vai ser denominado Centro de Reabilitação de Ecossistemas Ribeirinhos, estão feitos, esperando-se financiamento para a sua concretização.

Novembro 4, 2024 . 16:02

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