Caldas denuncia árbitro por palavras racistas a um jogador

O treinador do Caldas SC, José Vala, denunciou este domingo, após o empate (1-1) na receção ao Atlético, em jogo da Liga 3, um ato de racismo por parte do árbitro João Pinho, da Associação de Futebol de Aveiro, contra Yordy Marcelo, defesa central colombiano de 30 anos que representa os caldenses há seis épocas consecutivas.
“Um jogador meu foi vítima de um ato de racismo por parte do árbitro. Se o clube não fizer [queixa], eu vou pessoalmente fazer com o jogador, porque assisti a tudo. O jogador estava a falar com o quarto árbitro, a pedir ao colega dele para não lhe chamar esse nome durante o jogo, porque ele não faz mal a ninguém. O quarto árbitro ainda entrou dentro do balneário, mas o árbitro saiu imediatamente, virou-se para esse jogador e disse 'estás expulso'”, começou por contar José Vala ao Canal 11, nas entrevistas rápidas após o jogo de domingo.
“Estou pronto para testemunhar onde for, onde for necessário. Não estou a falar de arbitragem nem do desempenho do árbitro, mas estou muito triste. É um jogador estrangeiro, colombiano, que não merece isto e representa o símbolo do Caldas com muito orgulho. Não ficava bem comigo mesmo se não denunciasse. Estou pronto para fazer aquilo que for preciso e também estou pronto se a federação me quiser castigar”, prosseguiu.
Pouco depois das palavras de José Vala, o Caldas SC publicou um comunicado nas suas redes sociais onde contava mais pormenores sobre o sucedido, adiantando ainda que vai avançar com uma exposição à Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
“Quando nos deparamos com injúrias, injustiças e crueldades, não podemos ficar calados. Por acreditarmos num futebol justo, pelos valores que nos norteiam enquanto clube e pelos ensinamentos de respeito que transmitimos à nossa formação, não podemos ficar calados”, pode ler-se no comunicado.
“Durante o jogo de hoje [domingo], o nosso atleta Yordy Marcelo foi chamado de animal em tom pejorativo pelo árbitro da partida, João Pinho, da AF de Aveiro – ‘eu já trato de ti, ó animal’”, começou por relatar o clube, adiantando ainda que no final da partida, já na zona dos balneários, o atleta colombiano, “ao cruzar-se com o quarto árbitro, pediu-lhe que dissesse ao seu colega que ‘não se chama animal a ninguém’”. Na sequência desse momento, o atleta foi informado de expulsão pelo árbitro João Pinho. “Este momento foi testemunhado pela equipa técnica do Caldas SC e pelos restantes atletas da nossa equipa de seniores, que também presenciaram o momento da ofensa”, refere o clube.
“Esta situação é grave o suficiente e não teríamos de lhe adicionar nem mais uma linha, todavia sentimos que importa referir que o Yordy é reconhecido pelo clube, mas fundamentalmente pela comunidade e pelos caldenses, como alguém sério, respeitador e humilde. É um elemento fundamental em cada ida às escolas, apoiou os treinos das equipas de formação e é um exemplo para os mais novos precisamente pela sua postura no desporto. Por ele, não poderíamos ficar calados”, vincou o clube.
A direção do Caldas informou ainda que foi de imediato comunicada a ocorrência à PSP das Caldas da Rainha, presente no recinto desportivo, e referenciada a situação no relatório de jogo. “Pela ofensa proferida ao nosso atleta pautada por uma postura que consideramos inadequada por parte de um elemento da equipa de arbitragem, avançaremos com uma exposição à Federação Portuguesa de Futebol”, concluiu o clube.

Sindicato ao lado do jogador
O Sindicato dos Jogadores emitiu um comunicado esta segunda-feira a manifestar apoio ao jogador Yordy Marcelo, do Caldas, após os incidentes do passado domingo de alegado racismo, exigindo um pedido de desculpas por parte do “árbitro visado, pela forma como se dirigiu ao jogador”, dizendo que é uma conduta que “não pode ser tolerada”.
“O Sindicato dos Jogadores apela ao respeito recíproco e contenção que deve imperar entre jogadores e árbitros, enquanto protagonistas do nosso futebol, mantendo conversações com o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol e os seus homólogos da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), para encontrar formas de sensibilizar os seus representados e prevenir que episódios desta natureza se propaguem”, pode ler-se.
Também esta segunda-feira, o jornal Record deu conta que o árbitro João Pinho apresentou queixa-crime por difamação contra José Vala, treinador do Caldas, por este o ter acusado de racismo e ofensas.|