Trabalhadores da Tupperware dispensados até 7 de fevereiro
Os 200 trabalhadores da fábrica da Tupperware em Montalvo, Constância (Santarém), cujo futuro se mantém incerto, receberam carta de dispensa da apresentação ao trabalho até 7 de fevereiro, disse hoje à Lusa um funcionário da multinacional norte-americana.
“A administração começou a dispensar trabalhadores por falta de serviço e para não estarmos lá parados começou a dispensar os trabalhadores para poderem ficar em casa, a receber com todos os direitos, com subsídio de alimentação e subsídio de turno, quem tivesse turnos”, disse hoje à Lusa um trabalhadores da fábrica instalada em Montalvo, cujo fecho estava anunciado para 31 de janeiro.
"A carta diz que fomos dispensados do serviço até dia 7 de fevereiro, salvo se a empresa precisar dos nossos serviços, e aí ligará para nos apresentarmos para trabalhar”, disse Rui Caseiro, com 47 anos de idade e 23 de casa.
Os 200 funcionários da Tupperware foram informados em 9 de janeiro que iriam continuar a trabalhar até final do mês, com o respetivo pagamento de vencimento, sendo o período agora alargado até 7 de fevereiro, mantendo-se a incerteza sobre o futuro da fábrica.
A carta de dispensa “não é ainda uma carta de despedimento”, notou Caseiro, tendo referido que as cartas foram entregues “de forma gradual e por secções”, e que os funcionários “podem ser chamados a retomar o trabalho”, havendo ainda a “esperança” que a empresa não feche portas e que os trabalhadores não vão para o desemprego.
“Começaram pela produção, que já estava parada há algum tempo, depois o pessoal da manutenção, e, por fim, o pessoal do armazém. Estávamos lá a acabar os trabalhos que faltavam. Estes também já estão em casa, é o meu caso. Penso que hoje, por aquilo que estive a falar com meus colegas, estão lá dois, três trabalhadores”, declarou Rui Caseiro.
Numa das cartas de dispensa, dirigida aos trabalhadores da produção e assinada pelo diretor da unidade fabril, a que a Lusa teve hoje acesso, pode ler-se que, “na sequência da reunião de 9 de janeiro de 2025 e conforme acordado, vimos pela presente comunicar que se encontra dispensado de comparecer ao serviço e prestar trabalho de 16 de janeiro a 7 de fevereiro de 2025, inclusive”.
A carta refere ainda que, “durante o referido período, [o trabalhador] fica dispensado dos deveres de assiduidade e pontualidade”, e que “esta dispensa não altera a sua situação laboral, mantendo todos os direitos e regalias, incluindo o pagamento da remuneração e respetiva contagem da antiguidade”.
Apesar da dispensa, o trabalhador “deverá manter-se disponível para colaborar com a Tupperware – Indústria Lusitana de Artigos Domésticos Lda ou retomar a sua prestação de trabalho quando tal lhe seja solicitado”, pode ler-se, comprometendo-se a empresa a “avisar com um dia útil de antecedência caso seja necessário retomar a prestação de trabalho”.
Rui Caseiro disse hoje à Lusa que “os vencimentos estão todos em dia”, incluindo o do mês de janeiro, tendo indicado que o futuro “continua incerto” e que “há interessados em tentar manter o funcionamento” da fábrica.
“Dizem que ainda há uma luz para o futuro. As pessoas andam na expectativa. Estamos na incerteza mesmo. As pessoas estão a viver um dia de cada vez”, afirmou.
Contactado o presidente da Câmara de Constância, Sérgio Oliveira disse hoje à Lusa que o processo negocial com o grupo de empresários portugueses interessados na fábrica da Tupperware continua a decorrer.
“As informações que tenho é que o processo negocial mantém-se. Vamos ver se nos próximos dias existem desenvolvimentos”, declarou, tendo feito notar que “o poder de decidir está nas mãos dos credores, dos investidores e dos fundos de investimento na América”.
Face a estas movimentações, Sérgio Oliveira disse existirem várias possibilidades, sendo que "a da insolvência é que ninguém quer”.
A fábrica da multinacional Tupperware em Portugal, a funcionar desde 1980, dependia a 100% da casa-mãe norte-americana, vendida depois de em setembro ter entrado em falência, e os planos para o futuro não parecem passar pela Europa, uma vez que a empresa revogou a sua licença de venda de produtos em todos os países europeus, segundo noticiou a imprensa internacional.
O pedido de insolvência da casa-mãe tem consequências diretas na unidade portuguesa e pode deixar no desemprego os 200 trabalhadores que ali são efetivos, a maioria dos quais residente em Montalvo.
A Lusa pediu informações à administração da fábrica instalada em Portugal, sem resposta até ao momento.