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Greve dos oficiais de justiça adia julgamento de 29 arguidos no Tribunal de Leiria

No julgamento que estava previsto começar hoje estão em causa dezenas de crimes de burla, falsidade informática, burla informática e acesso ilegítimo

O julgamento de 29 arguidos pela alegada prática de dezenas de burlas através do MB WAY, previsto iniciar hoje no Tribunal de Leiria, foi adiado devido à greve dos oficiais de justiça, disse fonte judicial.

Os funcionários fizeram greve”, justificou, perante advogados do processo, a secretária de justiça Patrícia Varalonga, adiantando que também “não há ninguém para fazer” a sessão da tarde.

No Juízo Central Criminal não se encontrava hoje de manhã qualquer funcionário, constatou a Lusa no local.

A próxima sessão deste julgamento, no Tribunal Judicial de Leiria, está agendada para dia 12.

Estão em vigor três greves, decretadas pelo Sindicato dos Oficiais de Justiça (SOJ) e Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ), uma das quais desde janeiro de 2023, todas as tardes, por tempo indeterminado. Outra, desde junho de 2024, nas manhãs das quartas e das sextas-feiras, igualmente por tempo indeterminado.

Os oficiais de justiça começaram a negociar o seu estatuto em 16 de janeiro, tendo nesse dia responsáveis do SOJ e do SFJ reunido com a tutela e apresentado uma proposta conjunta.

A reunião, com a secretária de Estado Adjunta e da Justiça, Maria Clara Figueiredo, foi inconclusiva, já que a tutela não analisou, nem respondeu à proposta, alegando que não negoceia com sindicatos que mantenham formas de luta em vigor, disse nesse dia o presidente do SFJ, António Marçal.

De acordo com António Marçal, os sindicatos informaram a tutela de que não suspendem as formas de luta marcadas sem o Ministério da Justiça analisar e apresentar contrapropostas para resolver o problema das carreiras.

A proposta conjunta para uma revisão dos estatutos prevê que a carreira dos funcionários judiciais passe a ser pluricategorial, dividida em dois graus de complexidade distintos.

Nova reunião negocial entre sindicatos e tutela foi marcada para hoje.

No julgamento que estava previsto começar hoje estão em causa dezenas de crimes de burla, simples e qualificada, falsidade informática, burla informática, incluindo agravada, e acesso ilegítimo, cometidos em autoria singular ou coautoria, de acordo com o despacho de acusação consultado pela agência Lusa.

De acordo com o despacho do Ministério Público (MP), os acusados, antes de 23 de outubro de 2019, conhecedores do “funcionamento do serviço e das aplicações MBWAY e MBPHONE [esta foi descontinuada em novembro de 2022], formularam o propósito de, aproveitando as fragilidades” destes serviços, começarem a retirar proveitos económicos através do engano de terceiros desconhecedores.

Tudo começava com a consulta de páginas na Internet com anúncios de venda de artigos.

Identificado o anúncio – a esmagadora maioria publicados no OLX -, o passo seguinte passava por contactar o vendedor, revelando interesse na sua aquisição e sugerindo pagamento através do MB WAY.

Nos 61 casos (um na forma tentada) apresentados pelo MP, quase todos os lesados não utilizavam aquelas aplicações, nem conheciam o seu funcionamento.

Os arguidos e outras pessoas que o MP não identifica prontificavam-se a ajudar e, numa caixa Multibanco, os lesados faziam as operações indicadas pelos supostos compradores.

As operações passavam por associar o cartão bancário do vendedor do artigo ao telemóvel do alegado comprador, que ganhava, dessa forma, através da aplicação, acesso ao cartão e conta bancária dos lesados.

Depois, o “comprador”, utilizando a opção “enviar dinheiro” da aplicação no seu telemóvel, ordenava transferências para outro número de telemóvel que tinha associado um cartão bancário de uma conta sua ou de outro arguido.

O MP refere que foram usadas contas de outras pessoas, incluindo de lesados, para movimentar quantias subtraídas a outros lesados.

Além de transferências, foram feitos levantamentos de numerário e carregamentos de telemóvel, além de consultas de saldo ou movimentos de contas de ofendidos.

As contas feitas pela Lusa indicam um prejuízo patrimonial efetivo dos lesados foi de 166.553,55 euros.

 

Fevereiro 5, 2025 . 11:23

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