Professores contra carreira de diretor e escolha de elementos externos à escola
Os professores são contra a criação de uma carreira de diretor escolar e a possibilidade de esses diretores poderem convidar pessoas de fora da escola para constituir a sua equipa, revela um inquérito divulgado hoje pela Fenprof.
Numa altura em que a tutela se prepara para alterar o atual regime de gestão escolar, a Fenprof revela o que os professores “querem que seja mudado” e “o que não aceitam que lhe seja imposto”, tendo por base as respostas de 7.168 docentes ao inquérito, explicou Manuela Mendonça, presidente do Conselho Nacional da Fenprof.
Mais de nove em cada 10 professores (93%) defendem que o órgão de gestão deve ser eleito por um colégio eleitoral alargado composto por todos os professores e funcionários assim como representantes dos encarregados de educação e alunos. Por outro lado, 93% reprovam a ideia de existir um diretor que pode escolher “a sua equipa toda com elementos externos à escola”.
Sobre a ideia de criar um estatuto da carreira de diretores, com uma remuneração e avaliação especificas, apenas 14,24% disseram concordar com esta proposta da tutela.
A grande maioria dos professores (85,76%) discorda com a criação de uma carreira e estatuto próprios para diretores, à semelhança da posição defendida pela Fenprof, que entende que “os professores exercem ao longo da sua vida profissional vários cargos e a gestão é uma função e não uma profissão”, explicou Manuela Mendonça, que também é a responsável pela área da gestão e administração escolar.
Os professores voltaram agora a dizer que também não querem que os diretores possam recrutar diretamente uma percentagem dos docentes.
Há vários anos que a Fenprof tem defendido uma alteração do regime de gestão, apontando como problemas o modelo de elegibilidade dos órgãos, a colegialidade do seu funcionamento e a participação na tomada de decisão.
“O atual regime de gestão é um regime antidemocrático, porque concentra no diretor um conjunto de poderes e competências que anteriormente pertenciam a vários atores e órgãos escolares”, salientou Manuela Mendonça, lamentando que “os processos eleitorais tenham praticamente desaparecido das escolas”.
Mais de 80% dos professores que responderam ao inquérito defendem que a escolha dos coordenadores deve ser feita por eleição dos seus colegas: Por exemplo, os coordenadores de departamento devem ser escolhidos por todos os que fazem parte de cada departamento, assim como os coordenadores de diretores de turma devem ser o resultado da votação de todos os diretores de turma.
A sindicalista lembrou que a gestão escolar influencia as relações de trabalho e o clima na escola.
Em 2018, um estudo da Universidade Nova de Lisboa veio confirmar o que a Fenprof já vinha alertando: O modelo de gestão é um fator de desgaste profissional, sendo uma das causas dos “elevados índices de cansaço e exaustão emocional” dos professores pessoal e profissional dos docentes”, recordou a sindicalista.
Os professores também foram inquiridos sobre a criação dos mega agrupamentos, sendo que 83% os vê como “unidades orgânicas desumanizadas e sem qualquer racionalização pedagógica”.
Manuela Mendonça revelou ainda que o estudo, que faz “um retrato claro sobre o que os professores pensam e querem que seja o regime”, será agora entregue ao ministro da Educação, para que possa ser usado na revisão do diploma.
A sindicalista explicou que a revisão do regime de gestão não é de negociação obrigatória, “mas os professores devem ser ouvidos em todas as questões que dizem respeito à educação”.
Já Mário Nogueira lembrou que poderá haver uma situação de exceção: Caso haja a intenção de criar “uma carreira para diretores, com uma avaliação diferente, com regras diferentes, com salários diferentes, é connosco que tem de negociar, não com os diretores”.