
Porto de Mós contra soluções de alta velocidade
A Câmara de Porto de Mós discorda das soluções propostas para a linha ferroviária da alta velocidade no atravessamento do concelho, que vão afetar “permanentemente a população das freguesias”, e sugere outra solução.
“(…) Embora não concordemos com nenhuma das soluções no nosso concelho, até pela forma como irá afetar permanentemente a população das freguesias afetadas, entendemos que a solução B é menos intrusiva”, lê-se no parecer do município no âmbito da consulta pública do estudo de impacte ambiental do troço entre Soure e Carregado da futura linha de alta velocidade Lisboa-Porto.
Para a autarquia, a “solução A, embora em túnel, atravessa integralmente o lugar de Andam e contorna os lugares de Casais Garridos e Andainho, bem como todo o vale do Juncal, rico em explorações agrícolas de fruta”, além do “impacto significativo que terá nos recursos hídricos existentes no local”.
O troço Soure-Carregado da alta velocidade atravessa os concelhos de Rio Maior, Azambuja, Alenquer, Cadaval, Caldas da Rainha, Alcobaça, Porto de Mós, Leiria, Marinha Grande e Pombal. No estudo de impacte ambiental, encomendado pela Infraestruturas de Portugal, há duas soluções para o troço Soure-Carregado, A e B. A primeira tem quase 116 quilómetros, a segunda pouco mais de 117 quilómetros.
O troço foi dividido em quatro trechos - Carregado–Rio Maior, Rio Maior-Juncal, Juncal-Bidoeira e Bidoeira-Pombal -, apresentando-se várias alternativas de traçado segundo as soluções base.
Segundo o parecer do município de Porto de Mós, verifica-se o atravessamento do concelho por dois trechos (Juncal). A extensão é de 7,2 quilómetros para a solução A ou 6,5 quilómetros para a B.
A primeira passa pelas “freguesias do Juncal e Calvaria de Cima, atravessando predominantemente espaços com ocupação florestal e agrícola, mas interferindo com alguns espaços edificados na freguesia do Juncal, nos lugares de Juncal, Andam, Casais Garridos e Andainho”, diz a Câmara, no parecer.
Já a solução B, na freguesia do Juncal, “a maior parte dos espaços atravessados tem ocupação florestal e agrícola”, interferindo “também com alguns espaços edificados” nos lugares de Juncal e Cumeira de Cima.
“Do cruzamento do traçado com o PDM [Plano Diretor Municipal] em vigor verifica-se que o projeto atravessa várias categorias de solo rústico e urbano”, indica.
No caso do solo rústico, as duas soluções atravessam espaços agrícolas (incluindo algumas manchas de produção), florestais (de conservação muito pontualmente e de produção), naturais (esporadicamente leitos e margens de cursos de água considerados em reserva ecológica nacional [REN]) e de exploração de recursos geológicos. Já nos aglomerados rurais, a solução A interfere, em escavação, com o aglomerado rural na Estrada da Charneca, a sul de Andam.
Quanto ao solo urbano, a solução A atravessa Andam, em grande parte em túnel, sendo os espaços urbanos de baixa densidade atravessados pela solução B.
A Câmara nota que no projeto as “áreas estratégicas de proteção e recarga de aquíferos têm maior expressão no concelho” (com uma área afetada de 31,048 hectares), que se situa no maciço calcário estremenho, a segunda maior reserva estratégica de água subterrânea do país.
No parecer, a autarquia conclui, após aferir a afetação da alta velocidade na envolvente (200 metros para cada lado da linha), que a conjugação das duas soluções no concelho seria a “solução ideal e com menos impacto” nos perímetros urbanos e nas reservas agrícola e ecológica nacionais.
“Do ponto de vista da manutenção da qualidade de vida das populações, da redução dos impactes ambientais e da preservação e salvaguarda dos recursos naturais, bem como da manutenção das áreas agrícolas, a conjugação da A e B, atendendo ao interesse nacional do processo, seria aquela que nos parecia mais favorável”.
A consulta pública, em participa.pt, termina no dia 21. Soma já 169 participações.|