
Porto de Mós no caminho da Calçada Portuguesa a património UNESCO
“A chancela da calçada enquanto bandeira do nosso país nos vários continentes” é motivo de orgulho e testemunho da importância de oficializar esta arte. As palavras são de Jorge Vala, presidente da Câmara de Porto de Mós, que participou na conferência e inauguração da exposição com o mesmo nome ‘A Arte e o Saber Fazer da Calçada Portuguesa’, realizada naquela vila.
O encontro aconteceu enquadrado na candidatura da Calçada Portuguesa a Património Cultural Imaterial da UNESCO, uma forma de manter a “herança cultural viva de uma comunidade”, como afirmou António Prôa, secretário-geral da Associação de Calçada Portuguesa, da qual o município de Porto de Mós é membro associado e parceiro no âmbito da candidatura.
O empenho do presidente da Câmara no decorrer do processo, que iniciou em 2021, foi gratificado pelo representante da Associação de Calçada Portuguesa. Segundo António Prôa, a candidatura visa valorizar a arte, mas obedece a critérios mais profundos que se prendem, nomeadamente, com a consideração da profissão de calceteiro. “Deste modo, foram creditadas várias entidades para dar formação, estando 6 a lecionar a 33 formandos e tendo já emitido 15 certificados. A profissão de calceteiro enfrenta vários problemas, entre eles a idade avançada dos seus profissionais, que se situa entre os 55 e os 60 anos, a dificuldade em angariar novos executantes e, por conseguinte, em passar conhecimento”, esclarece o município em comunicado, acrescentando que a Calçada Portuguesa “obedece a uma cadeia de valor que assenta na extração, construção e manutenção dos trabalhos de calçada, com destaque para a sustentabilidade ambiental do processo”.
A Câmara de Porto de Mós informa ainda que se encontra-se a decorrer um levantamento de todos os trabalhos significativos de Calçada Portuguesa no mundo, havendo registo de 18 países e mais de 100 locais, com destaque para o Brasil.
António Miranda, historiador do Município de Lisboa, fez uma resenha histórica sobre o trabalho de calcetamento até ao surgimento da arte da Calçada Portuguesa, sublinhando a especificidade desta última.
Já o responsável pelo Património Cultural do Município de Porto de Mós, Jorge Figueiredo, apresentou uma vertente diferente de aplicação de pedra, a também arte milenar de construção em pedra seca sem ligante que resulta “na arquitetura do útil” que povoa a zona serrana do concelho.
A encerrar a sessão, Célia Marques, vice-presidente executiva da ASSIMAGRA, afirmou que “Lisboa é a verdadeira guardiã da Calçada Portuguesa”, mas que esta enfrenta uma série de desafios, entre eles a transmissão deste “saber-fazer”, a escassez de profissionais, a adaptação desta arte às novas exigências dos centros urbanos e a necessidade de equilibrar os interesses económicos da indústria extrativa e os valores ambientais.
No final da sessão a comitiva seguiu para a inauguração da exposição, que contou com a visita guiada pela voz de António Miranda e de António Prôa.
A exposição, de entrada gratuita, está patente na Central das Artes até ao dia 25 de março.