
Montenegro admite envio de militares portugueses mas diz que decisão é precoce
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, admitiu hoje a possibilidade de Portugal enviar militares portugueses para a Ucrânia no âmbito de um processo de paz "com garantias de segurança" mas ressalvou que é cedo para tomar essa decisão.
“Não estamos ainda no tempo de o definir e decidir em concreto. É precoce estarmos hoje a tomar uma decisão sobre se vamos ter ou não militares das nossas Forças Armadas num hipotético teatro de operações na Ucrânia”, respondeu Luís Montenegro ao PS, no parlamento, durante o debate preparatório do Conselho Europeu.
O primeiro-ministro disse que, caso haja “um processo de paz, com garantias de segurança, não será a primeira nem a última vez” que Forças Armadas portugueses darão o seu contributo neste âmbito.
“Como contribuem hoje para assegurar a manutenção da paz, a salvaguarda de operações de dissuasão”, referiu, dando como exemplo a presença de militares portugueses em missões na Roménia, Eslováquia ou Lituânia.
Montenegro insistiu na ideia de que este tema “é precoce”, mas sublinhou que Portugal tem de entender a sua participação ao abrigo das suas responsabilidades.
“Posso dizer aos nossos parceiros europeus que talvez possam compreender hoje melhor, quando lá atrás nós estávamos sob grande pressão para recuperarmos o nosso país do desequilíbrio financeiro em que nos encontrávamos e pedimos alguma flexibilidade das regras europeias, nomeadamente do pacto de estabilidade e crescimento, e nem sempre nos foi possibilitado isso”, referiu.
Quando outros países “reclamam hoje para si mesmos essa flexibilidade”, para cumprir este desígnio novo de investir na área da defesa, este é um bom momento para Portugal ter “um comportamento diferente” daquele que alguns tiveram com o nosso país, segundo Montenegro.
“Em Portugal, hoje, não precisamos da flexibilidade das regras de estabilidade para podermos investir mais na área da defesa. Vimos de anos sucessivos de `superavit´ orçamental”, disse.
Pelo PS, João Paulo Rebelo afirmou ver “com tristeza” que, em 2025, o foco esteja numa indústria que “trouxe a angústia e a guerra” no século passado.
“O PS não é um partido lírico que não perceba e que apoie que nós temos que estar preparados para a guerra para garantir a paz”, afirmou.
O socialista quer que Portugal “tenha uma voz no Conselho Europeu que ponha às claras de todos os negócios que estão a acontecer” e que defenda que a paz na Ucrânia “não pode acontecer nesta perspetiva usurária”.
Momentos antes, em resposta aos deputados do PSD Paulo Moniz e Ricardo Carvalho, o primeiro-ministro considerou que o reforço na área da Defesa deve ser visto como um investimento e não como uma despesa.
“Nós não queremos pôr a Europa, os estados-membros, e muito menos queremos pôr aquela que é a nossa responsabilidade principal, que é Portugal, a comprar mais material militar. Não é assim que se faz um investimento na Defesa. Nós queremos estar mais habilitados nas nossas capacidades, mas queremos fazê-lo à conta do estímulo pelas nossas indústrias, pela nossa capacidade produtiva”, salientou Luís Montenegro.
O chefe do executivo sustentou que este investimento deve ser feito de forma coordenada à escala europeia: “Não vamos estar todos a construir as mesmas indústrias, as mesmas fábricas, a fazer as mesmas coisas em sobreposição”, explicou.
Montenegro insistiu nesta coordenação, salientando as vantagens para a economia e para o mercado único.
“Também na área da Defesa é preciso que os Estados-membros da União Europeia comprem mais uns aos outros, aproveitem precisamente a fluidez do nosso mercado, criando mais oportunidades de negócio, mais capacidade de desenvolvimento e retenção de talento, de mão-de-obra qualificada, de capacidade produtiva e de comercialização", sublinhou.