
CGTP alerta que trabalhadores atravessam momento de grande instabilidade
O secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, alertou hoje que os trabalhadores estão a atravessar um “momento de grande instabilidade”, pedindo que se discuta o que é essencial nas próximas eleições legislativas.
“Que se discuta aquilo que é essencial e deixar o processo democrático decorrer, porque, neste momento, quem está, de facto, a atravessar um momento de grande instabilidade são os trabalhadores, é o povo”, afirmou aos jornalistas Tiago Oliveira, na Marinha Grande, onde hoje começou uma greve no setor vidreiro.
Questionado sobre a instabilidade política no país, o dirigente da intersindical contrapôs ser necessário perceber que “instabilidade sentem os trabalhadores quando olham para o ordenado que têm ao fim do mês e veem que o mês tem dias a mais para o salário que têm”.
O dirigente da intersindical defendeu que nos “próximos meses os partidos políticos possam levar à discussão junto do povo, dos reformados, dos jovens, daqueles que trabalham, as suas propostas que têm para o país” em matérias como a valorização dos salários, o combate à precariedade ou o Serviço Nacional de Saúde e outros serviços públicos.
Junto à empresa Santos Barosa, do Grupo Vidrala, onde começou a greve convocada pela Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro (FEVICCOM) por aumentos salariais dignos, Tiago Oliveira realçou a “adesão fantástica” à paralisação.
O secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses acusou o setor vidreiro de avançar, “unilateralmente, com os aumentos salariais sem qualquer tipo de negociação”.
“É um setor que está a bloquear a negociação e está a avançar com salários abaixo daquilo que é o objetivo e as reivindicações dos trabalhadores”, frisou o dirigente.
Tiago Oliveira salientou que em causa nesta greve está a “valorização dos salários”, defendendo a necessidade de se ter “perfeita noção do brutal aumento de custo de vida que incide sobre os trabalhadores, sobre o povo português”.
“Temos de fazer face a este brutal aumento que incide sobre quem trabalha. E só há uma fonte de rendimento dos trabalhadores, o seu salário”, adiantou.
Questionado sobre a eventualidade de, no final da greve, não houver resultados, o responsável da CGTP contrapôs que “a empresa tem de olhar para a dimensão da luta (…) e terá de perceber que quando um trabalhador luta, luta convicto de que está a razão do seu lado”, apelando para que se “sente à mesa para negociar”.
A paralisação, iniciada na Santos Barosa, fábrica garrafas de vidro com cerca de 500 trabalhadores, estende-se à Gallo Vidro e Vidrala Logistics, também do Grupo Vidrala, até ao final da semana.
Segundo a FEVICCOM, a adesão hoje de manhã foi de “quase 100%”.
Entre as reivindicações nos três pré-avisos de greve estão aumentos de salários e de subsídio de refeição, atualização do subsídio de turno, 35 horas de trabalho semanais, prémio de produção ou mais dias de férias.
Hoje de manhã, concentraram-se junto às instalações da Santos Barosa dezenas de funcionários, onde uma tarja pedia “35 horas [de trabalho] para todos”, enquanto noutros cartazes lia-se “Não aceitamos esmolas, só queremos o que é justo” ou “Lucros de milhões, aumentos de tostões”.
Paralelamente, as palavras de ordem foram “É urgente e necessário o aumento do salário” e “Vidreiros unidos jamais serão vencidos”.
Uma trabalhadora de 45 anos, que há 27 trabalha na empresa, salientou que “as condições de trabalho são cada vez menos”.
“Reduziram o pessoal e temos cada vez mais trabalho”, declarou, referindo que se dantes um trabalhador tomava conta de uma máquina, agora toma de quatro a seis”, mas “o ordenado não está a acompanhar”.
Já outro funcionário, de 40 anos e há 17 na empresa, considerou que os trabalhadores sentem que não são reconhecidos pelo esforço que fazem.
“Se a empresa dá milhões [de euros], é porque os trabalhadores se empenham”, sustentou.