A dor de perder Ringo fez nascer um projeto solidário

O que fazer com a dor da perda de um animal de estimação? Joana Pena Ferreira decidiu transformá-la em amor.
Depois de um “infortúnio” que acabou na morte inesperada do seu cão Ringo, um jack russel de apenas três anos, a psicóloga alcobacense encontrou uma forma de homenageá-lo e, ao mesmo tempo, ajudar outras pessoas e animais.
Com o projeto solidário ‘Hora do Ringo’, Joana Pena Ferreira disponibiliza duas horas da sua agenda semanal para consultas de psicologia gratuitas em troca de, pelo menos, um saco de ração para cão ou gato, com o objetivo de doar ao GAPA - Grupo de Ajuda e Proteção Animal, com sede em Alcobaça.
Num dia em que o Ringo se “escapou pelos portões” de casa acabou por ir ter a casa do vizinho, onde se envolveu numa “luta de cães”, não tendo resistido aos ferimentos. “Foi de um dia para o outro. Era um cão jovem, sempre presente na nossa vida a todos os momentos. Acompanhou um casamento, o nascimento de um filho e acompanhou momentos importantes da nossa vida”, contou. A dor da perda foi intensa, mas a psicóloga sabia que precisava de um propósito e de canalizar essa dor para algo mais positivo.

“Estive meia abananada durante uma ou duas semanas e, fruto da minha experiência enquanto psicóloga e de lidar com outros processos de luto, percebi que neste processo é importante nós transformarmos a dor em algo".

Joana Pena Ferreira acredita que existem “princípios” que ajudam a ultrapassar a dor e um deles é, de facto, “olhar, numa perspetiva de resiliência, para o copo meio cheio”, transformar os “sentimentos desagradáveis” e a dor em amor “no sentido de dar ao outro”.
A psicóloga lamenta que o luto pela perda de um animal seja ainda “um pouco marginalizado pela sociedade”. “É tabu alguém manifestar a dor pela perda de um animal, mas é uma perda, uma perda como qualquer outra”, realçou.
O projeto nasceu em novembro e até à data já foram doados à GAPA 150 quilos de ração animal, produtos higiene e limpeza e 110 euros. A adesão tem sido positiva e as duas horas semanais estão sempre preenchidas. “Vêm todo o tipo de pessoas. Até há pessoas que querem contribuir e não usufruir da hora”, salientou.
O projeto começou com as consultas, mas rapidamente outros quiseram aderir e associar-se ao movimento. O cabeleireiro Chico Hairstylist, também de Alcobaça, juntou-se à causa, oferecendo um corte de cabelo ou penteado por semana em troca da mesma doação. Depois veio a Memória Lusa, uma empresa de cerâmica que disponibiliza peças para quem deseja contribuir sem usufruir dos serviços.
Mais recentemente, a fotógrafa profissional Sara Leonardo passou a integrar o movimento e tem captado toda a essência dos animais que o GAPA acolhe e estão para adoção. Diana Bernardes do projeto Teatro Transformação também quis juntar-se, disponibilizando o seu tempo através das suas aptidões de atriz, professora e facilitadora de aprendizagem e desenvolvimento pessoal, no workshop ‘Desbloqueia a Tua Criatividade: Um Mergulho na Imaginação’, que se vai realizar no dia 12 de abril.
O valor das inscrições revertem a favor da associação e podem ser feitas através do e-mail: [email protected].
Sobre o futuro do projeto, a psicóloga espera que o movimento continue a crescer. “Gostava muito [que outros profissionais se juntassem à causa]. Fico sempre muito feliz quando alguém se quer juntar, porque significa que estão a pensar nos outros ou nos animais”.
Joana Pena Ferreira lembra o Ringo como um jack russel “muito enérgico”, “animado” e “corajoso”. “Era um cão que parecia que falava. que puxava por nós. Tinha um sentido de liberdade muito grande e eu percebi isso desde início. Realmente era um cão que precisava muito de estímulos e precisou até ao final”, destacou Joana Pena Ferreira.