
“A perda de um animal pode ser tão significativa como a perda de um ente querido”
A morte de um animal de estimação pode ser desoladora e provocar um vazio que pode mesmo prolongar-se no tempo. Para muitos, são membros da família, fontes de conforto e parte essencial da rotina.
Pedro Correia é psicólogo clínico do projeto L.U.I.S.A - Unidade de Intervenção e Apoio no Luto, sediado em Pombal, que dispõe de acompanhamento psicológico para lidar com este tipo de perda, que pode ser tão profunda quanto a de perder um familiar. “A perda de um animal pode ser tão significativa como a de um familiar. A verdade é que acabamos por nos apegar muito aos nossos animais de companhia, porque passamos muito tempo com eles, até porque, muitas vezes, eles são quase um recurso de carinho e acabam por ser companheiros nas horas difíceis”, explicou.
O impacto da perda pode variar consoante as circunstâncias. Se a morte for repentina, o choque tende a ser ainda maior, porque “não houve nada que preparasse para o luto”. e um dos fatores que pode dificultar este processo é a falta de tempo para lidar com as emoções. “Isto acontece muitas vezes no caso das mulheres, que são mães e que acabam por ter que lidar com tanta coisa no seu dia a dia, que parece que não têm tempo para parar e permitirem-se sentir a tristeza, porque isso faz parte do processo de luto. É um exemplo, mas qualquer pessoa que tenha uma vida muito atarefada acaba por não ter tempo para se permitir sentir o luto”, realçou.
A negação pode ser um dos primeiros mecanismos de defesa, mas na opinião do psicólogo a melhor maneira de ultrapassar a dor é enfrentá-la. “Há aquelas pessoas que acabam por entrar em negação e que gostam de manter tudo e de fazer tudo igual ao que acontecia, mas isso não é ultrapassar a dor. Para ultrapassarmos a dor temos realmente que nos depararmos com ela. É mesmo essencial”, assegurou.
O psicólogo aconselha a procurar apoio junto das “pessoas certas”, mas admite que esse suporte nem sempre é fácil de encontrar, já que o luto pela perda de um animal ainda é encarado com ceticismo.
“A verdade é que um luto por um animal ainda é muito estigmatizado e, por vezes, as pessoas que estão a passar por um luto acabam por não ser compreendidas”, reconheceu, destacando a necessidade deste tipo de luto “ser validado”, isto é, “perceber que é completamente válido estar de luto por um animal de estimação”. “Temos que perceber que a dor que nós sentimos é tão real como a de alguém que perde um ser humano. Que nós temos total permissão para sentir as nossas emoções e que não temos que as reprimir. E nós aceitarmos a dor também é o primeiro passo para a cura”, frisou.
Questionado sobre como os familiares e amigos podem apoiar alguém que está a passar por este processo, Pedro Correia defendeu que, essencialmente, deve dar-se espaço ao outro e não julgar.
Uma dúvida comum é se deve adotar outro animal para preencher o vazio. Pedro Correia defende que essa decisão deve ser tomada com cautela e não adotar um animal apenas para substituir aquele que partiu, pois as expectativas podem sair defraudadas. “A pessoa deve perceber quando é que está preparada, até porque nenhum animal é igual a outro, mesmo que sejam da mesma raça”, acrescentou.