
Jornadas de reflexão propõem criar novos caminhos para o teatro
Encontrar novos caminhos para o teatro e aproximar esta arte a uma “nova arquitetura social” são alguns dos desafios que vão estar em discussão e debate nas ‘Jornadas de Reflexão sobre o teatro em Leiria e na sua região – I Ato’ que terão lugar no próximo domingo, numa organização do TE-ATO – Grupo de Teatro de Leiria.
As jornadas de reflexão, que irão realizar-se na Black Box – Plataforma de Criação Artística de Leiria, pretendem ser um espaço de partilha de ideias, em que o objetivo não passa por encontrar respostas e soluções absolutas, mas sim levantar questões e inspirar inquietações sobre uma arte que, segundo o diretor artístico do TE-ATO – Grupo de Teatro de Leiria precisa de “encontrar novos caminhos”.
Para João Lázaro, ao longo da história, o teatro sempre passou por crises e soube sempre “reformular-se”, mas aquilo que o encenador apelida de “crise contemporânea” representa um novo desafio em que o teatro terá de conseguir reinventar-se.
“Por um lado, hoje, o teatro não é feito pelo talento dos encenadores, dos textos ou dos atores. É muito popularizado pelas figuras que o ‘mainstream’ [conceito que expressa uma tendência ou moda principal e dominante] divulga. Qualquer carinha laroca, desde que faça ginásio e tenha as medidas regulamentares, é uma vedeta de televisão, nem que seja a fazer spots publicitários, e quando está em cima de um palco é aplaudida de pé entusiasticamente perante representações que deixam muito a desejar a qualquer ator de um grupo de teatro amadores”, começou por referir João Lázaro.
Por outro lado, para o diretor artístico do TE-ATO, as séries e os filmes disponibilizados “em catadupa” pelos serviços de ‘streaming’ estão a tirar pessoas do teatro, já que as mesmas “nem precisam de sair de casa”.
“Este é um motivo de reflexão”, sublinhou João Lázaro, acrescentando ainda que “a arquitetura social está a sofrer grandes alterações”, fazendo alusão, por exemplo, ao número de imigrantes no nosso país.
“A sociedade mudou, a arquitetura social já não é a mesma. Então a pergunta é: Por que é que o teatro deve permanecer nesta modorra de representar sempre para os mesmos?”, questionou João Lázaro, acrescentando que em Leiria os espetadores de teatro “são sempre os mesmos”, pelo que há “uma lacuna da parte de quem faz teatro” por não ir ao encontro do público.
“Todos os dias há dados novos e transformações e a relação que o teatro tem com estas circunstâncias está a ficar para trás. Estamos a ser ultrapassados e então há que refletir sobre isto e perceber como é que vamos ao encontro deste novo potencial de público que garantidamente se quer ver refletido em palco”, vincou João Lázaro, explicando que esta será a premissa das jornadas de reflexão sobre o teatro em Leiria.
Assim, sob o tema ‘Quantos palcos para um teatro?’, as Jornadas de Reflexão têm como público-alvo as companhias e grupos de teatro, agentes culturais públicos e privados de teatro, mas também quem quiser aparecer “será sempre bem recebido”.
A partir das 09h30 de domingo, a manhã será reservada aos painéis de oradores com a presença de Catarina Medina (diretora de comunicação da Culturgest), Lisete Cordeiro (diretora-geral da InPulsar), Rita Pires dos Santos (mediadora cultural), Luís Mourão (dramaturgo), Rafael Nascimento (gestor cultural e chefe de divisão da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra), e Rui Ibañez Matoso (professor universitário e pesquisador em novas médias e tecnologias pós digitais, sistemas ecológicos e estudos culturais).
Da parte da tarde haverá fóruns de reflexão e uma sessão conjunta para comunicação das conclusões.
“Se no final deste dia ficarmos com muitas perguntas para esclarecer, com muitas dúvidas na nossa cabeça e sintamos necessidade de haver um ato 2 ou 3 isso quererá dizer que cumprimos os objetivos destas primeiras jornadas”, concluiu João Lázaro.