O Ruído Ensurdecedor do Silêncio
O nosso dia a dia é povoado por muitos barulhos - uns mais harmoniosos e agradáveis que outros. O compasso do meu, é marcado pelo toque das campainhas da escola; pela algazarra nos intervalos; pelas conversas mais ou menos inflamadas nas salas de professores; pelas gargalhadas nas reuniões com a minha equipa; pelo ritmo da música ouvida com o volume no máximo, no decurso dos longos trajetos pendulares; pelo rebuliço das minhas filhas; pelo notável record de decibéis, semanalmente atingido, quando me junto aos meus irmãos, nos almoços de família aos domingos.
Este é o 'barulho-bom' que me alimenta os dias ou, em linguagem técnica, parte daquele eustress, que me impele para a vida ao virar de cada madrugada de recomeços. Mesmo que depois, como nas horas a que escrevo este texto, preze a calma do silêncio só meu. Aquele hiato sereno do qual o tempo emerge e que nos permite só ‘estar’. Sem correr, sem ‘ter que’ fazer. E é neste contexto que reflito sobre o barulho, o silêncio e o ruído: sobre o prazer que retiro de cada atrupido rotineiro, em contraponto ao desconforto estrepitoso de alguns silêncios. É que, efetivamente, o ruído que mais me incomoda ‘cá dentro’, é mesmo o 'barulho-perverso' da apatia e a mudez da indiferença.
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