
Reclusos vão jogar râguebi com os ‘Lobos’
Os jovens reclusos do Estabelecimento Prisional de Leiria, conhecido por prisão-escola, vão ter treinos de râguebi com os ‘Lobos’, clube desportivo da Associação ***Asteriscos, a partir desta próxima semana.
O protocolo assinado na passada sexta-feira, surgiu através de um convite do Comité Regional de Rugby do Centro ao clube de Leiria, que vai replicar o projeto do Rugby com Partilha, uma associação que levou a modalidade a vários estabelecimentos prisionais do país.
“É um projeto que vai ter um impacto muito positivo nos nossos jovens, porque envolve a atividade física, mas também cria muito valor ao nível daquilo que transmite em termos de convivência, responsabilidade e espírito de equipa”, afirmou à agência Lusa a diretora da prisão-escola de Leiria, Joana Patuleia.
Esta responsável sublinhou que se trata de uma modalidade muito completa e que faz uma analogia ao que se passa na vida: “Há embate, há luta, há esforço e há também superação”.
“Existem todas estas coisas, mas é preciso superar e avançar e o râguebi tem este valor, que ajuda em termos de desenvolvimento pessoal e social, o que cria condições para os ajudar na integração em sociedade”, acrescentou.
Referindo que a prisão-escola é o único estabelecimento prisional para jovens do país, destinado a reclusos dos 16 aos 21, podendo prolongar-se até aos 25 anos, Joana Patuleia informou que existe uma procura de abertura ao exterior e à comunidade, “com envolvimento de diversas entidades parceiras em diversas áreas”.
No seu discurso, disse que o “ensino é importante, mas a educação não formal ainda mais importante é”, pois “estão numa fase de desenvolvimento, com um percurso difícil e complicado, e precisam de uma série de competências para depois poderem conseguir a sua reinserção com êxito”.
O Fundador do Rugby com Partilha, Manuel Cortes, revelou que o projeto nasceu em 2016 e está a ser desenvolvido nos Estabelecimentos Prisionais Regional de Lisboa, Alcoentre, Linhó, Santa Cruz do Bispo (mulheres), Vale dos Judeus e Évora. “É transformador para eles e é extraordinário ver como é que os que são extraordinários atletas e os que não são acabam por se integrar e se aceitar. É muito educativo”, sublinhou, ao destacar que existe “personalidade, relacionamento, agressividade que é trabalhada, e aceitação do erro do outro e do próprio”.
Manuel Cortes afirmou que há atletas que podiam jogar numa equipa como os ‘Lobos’ de Leiria e outros que quase só podiam ser apanha-bolas. “Mas temos de os olhar olhos nos olhos, fazer placagens e recebê-las. Tem de ser uma igualdade”, reforçou, admitindo que recebe mais do que aquilo que dá.
O presidente do Comité Regional de Rugby do Centro, Paulo Picão Eusébio, adiantou que o objetivo é aumentar o número de atletas, mas também existe uma preocupação com a vertente social.
“Como antigos praticantes, temos a missão de continuar este legado de promover o desporto e provar que somos diferentes, através de valores de resiliência, de espírito de equipa e de dedicação, que são os valores que o râguebi compartilha”, referiu.
Por isso, ficou “fascinado” com o projeto de Manuel Cortes e aquilo que o râguebi “proporciona a pessoas que estão privadas da sua liberdade, e que precisam de uma ajuda para uma melhor reintegração, também depois na sua vida”.
A associação ***Asteriscos aceitou de imediato o desafio lançado pelo Comité. O presidente Raul Testa confessou que uma das funções dos clubes desportivos é “ter impacto na sociedade além da atividade desportiva”.
“Tendo em conta que a filosofia subjacente à criação do Direito Penal em Portugal aplica as penas como objetivo de regeneração e de reintegração das pessoas que são presas, todas as atividades que pudermos desenvolver em conjunto com a prisão, que ajudem a dar novas ferramentas e nova integração a quem está privado da sua liberdade, são para nós fulcrais”, considerou.