Choramingar Compensa?
Vivemos num país onde, muitas vezes, quem mais reclama é quem mais recebe. Onde o mérito, a responsabilidade ou o cumprimento de obrigações parecem ser esquecidos quando comparados com a capacidade de fazer barulho, de bater o pé, de “chorar” — no sentido figurado ou literal — até alcançar o que pretende.
Recentemente, para tentar reduzir a prestação da casa, recorri a uma empresa intermediária. Entreguei-lhe toda a minha informação: salário, empréstimo, conta bancária, dados pessoais. Essa empresa apresentaria o meu caso a doze bancos diferentes. A proposta mais vantajosa viria de um deles e o pagamento pelo serviço seria feito... pelo próprio banco. E eu pergunto: Porque é que o banco não me propõe, à partida, essa condição mais justa, sem que eu tenha de passar por um intermediário para conseguir aquilo que, em boa verdade, já deveria ser o melhor que o banco tem para me oferecer?
O mesmo se passa com contratos de energia, seguros ou telecomunicações. O consumidor é tratado não como alguém a respeitar, mas como alguém a explorar — até aparecer um “negociador” que desbloqueia condições mais vantajosas. No fim, todos ganham — menos o cliente. Parece que o sistema está montado para premiar quem se indigna mais alto, quem sabe jogar melhor o jogo da vitimização.
Nas compras profissionais, a lógica é idêntica. Pedimos um orçamento e recebemos um preço. Mas basta mencionar uma proposta concorrente e o valor desce — por vezes, de forma absurda. Afinal, qual é o preço justo? Porque é que não nos apresentam logo a melhor proposta? Criou-se um modelo onde o jogo do espertismo supera a honestidade.
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