
Governo preparou conjunto de medidas com “volume superior a dez mil ME”
O Governo preparou um conjunto de medidas “com um volume superior a dez mil milhões de euros” para responder às tarifas aduaneiras aplicadas pelos Estados Unidos, anunciou hoje o primeiro-ministro.
Luís Montenegro falava na conferência de imprensa após a reunião do Conselho de Ministros dedicada às tarifas aduaneiras aplicadas pelos Estados Unidos da América, que se realizou na residência oficial do primeiro-ministro, em Lisboa.
“Portugal está ligado aos Estados Unidos da América por uma sólida amizade e uma intensa relação política e económica (…) Mas, por vezes, é preciso assumi-lo, até com os nossos grandes amigos temos algumas divergências”, disse.
O primeiro-ministro defendeu que “a prioridade absoluta passa pela negociação com os Estados Unidos” e assegurou que Portugal está completamente alinhado com as posições tomadas pela Comissão Europeia.
A diversificação de mercados e a concretização rápida do acordo já assinado entre a UE e o Mercosul foram outras das prioridades defendidas pelo primeiro-ministro português, que saudou a pausa de 90 dias nas tarifas anunciada na terça-feira pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Na sua intervenção, de cerca de 15 minutos, Montenegro admitiu que o aumento de tarifas anunciado pelos Estados Unidos – entretanto suspenso - “ameaça o crescimento económico mundial e pode conduzir a um conflito comercial” que, considerou, “não beneficia ninguém”.
Sobre a situação portuguesa, o primeiro-ministro recordou que os Estados Unidos são o quarto destino das exportações nacionais, admitindo que possam ser atingidas de forma direta e que a economia portuguesa “pode ser afetada de forma indireta”.
“Portugal saúda a pausa de 90 dias, que mostra bem que este não é um tempo para declarações precipitadas e refletidas. Continuaremos a trabalhar com a Comissão Europeia e a acompanhar a par e passo as negociações da União Europeia, mas sempre com a consciência de que uma pausa, esta pausa, é isso mesmo, é apenas uma pausa e que temos de ter o trabalho de casa feito, dentro de portas e também à escala europeia”, afirmou.
O primeiro-ministro defendeu que a história demonstra que o protecionismo não é a solução e que o aperfeiçoamento das regras comerciais “passa por diálogo, reformas e efetiva aplicação das suas regras”.
“A resposta a este desafio comercial tem dois planos. O primeiro, o plano externo, em que nos coordenamos e agimos a nível europeu. E a nível interno, em que tomamos medidas nacionais para apoiar os setores que são mais afetados”, afirmou, antes de o ministro da Economia, Pedro Reis, detalhar o pacote de medidas.
Em ambos os planos, defendeu, “reações apressadas e impulsivas, sem avaliação rigorosa, apenas agudizam os problemas”.
“Há semanas que, com o devido recato, mantemos uma coordenação diária com a Comissão Europeia e os nossos parceiros europeus. Eu próprio tenho tido contactos telefónicos frequentes com a Presidente da Comissão Europeia. E agora que conhecemos as medidas efetivas dos Estados Unidos, a União Europeia está a dar a resposta adequada”, defendeu.
Montenegro – que não respondeu a perguntas no final, que puderam ser dirigidas apenas ao ministro da Economia – nunca se referiu a qualquer responsável político.
Na última semana, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, tem acusado o Governo de inação na resposta às tarifas aduaneiras impostas pelos EUA e lamentado que o executivo não tenha reagido com maior rapidez “como fez o governo espanhol”.