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Opinião: Educação – A revolução necessária

Fevereiro 3, 2025 . 16:00
"Vivi o suficiente para saber a diferença entre uma guerra em que os inimigos utilizam armas semelhantes entre exércitos, com o que se passa em Gaza, em que os adversários dos aviões, dos tanques e das bombas de profundidade de Israel, são as crianças e as famílias chacinadas sem defesa possível".

Uma das tarefas principais de quem escreve como eu pelo menos, três textos por semana para publicação nos jornais é a escolha dos temas. Pessoalmente faço o possível para evitar muitos dos temas da moda, temas tratados em todos os meios da comunicação social que considero fait divers, para entreter os incautos da política portuguesa. O resultado é certamente uma certa repetição dos mesmos temas que considero mais importantes e que são a base do meu pensamento político: a educação, a economia, a ferrovia, a corrupção e, em geral, o que considero serem erros dos governos propondo alternativas.

Hoje escolho tratar o que sai em todos os jornais, os 80 anos da descoberta do campo de concentração alemão de Auschwitz e a libertação dos presos sobreviventes. Recordo esse dia como muitos outros dias com acontecimentos da guerra, quando em criança seguia com a família diariamente os avanços e recuos das tropas aliadas com os ouvidos colados ao noticiário em português da BBC. Recordo os avanços russos, as reuniões dos dirigentes aliados, em particular o dia da primeira bomba atómica, ou o dia em que fui a correr para a Praça Stephens na Marinha Grande para festejar o fim da guerra.

Hoje escrevo Auschwitz vivendo um misto de contradições, com a mesma angústia daquele dia em que ficámos a conhecer melhor a tragédia anunciada dos judeus, com a mesma revolta com que hoje sigo nas notícias os crimes dos descendentes desses mesmos judeus em Gaza, na Cisjordânia, no Líbano e até na Síria. Em que um primeiro-ministro judeu de uma suposta democracia mostra ser feito do mesmo material do que Hitler. Não recuo nas palavras, porque já vivi o suficiente para saber o que são crimes, ou o que revela um pensamento imperial de destruição e de genocídio de outros povos. Sim, a tragédia do nosso tempo é que Netanyahu e Putin não são melhores do que Hitler.

Vivi o suficiente para saber a diferença entre uma guerra em que os inimigos utilizam armas semelhantes entre exércitos, com o que se passa em Gaza, em que os adversários dos aviões, dos tanques e das bombas de profundidade de Israel, são as crianças e as famílias chacinadas sem defesa possível. Onde o terrorismo, em toda a sua dimensão trágica e igualmente criminosa é o resultado do povo palestino estar há décadas sem outros meios de defesa, com os territórios onde nasceram a serem ocupados violentamente por colonos.

O planeta em que habitamos, vive hoje um tempo de retorno à irracionalidade de tempos passados, quando a ignorância e a miséria dos povos justificariam a destruição e a morte de nações inteiras. Retorno caracterizado por povos saídos das escolas e das universidades mais modernas, povos detentores dos maiores avanços científicos de que há memória, povos que ambicionam aterrar em Marte e que não conhecem as fomes históricas do nosso passado, mas que se comportam como primatas sem os benefícios da humana inteligência.

Estas são algumas das razões por que há muito defendo uma revolução nos sistemas de ensino, no sentido de dar toda a prioridade à formação das nossas crianças nas creches e no pré-escolar, com a atenção particular na formação dos comportamentos, do humano respeito de uns pelos outros, da consciência da diferença entre o bem e o mal. Com a ideia de que essa tarefa não pode hoje ser feita pela família e de que a universidade pode dar conhecimentos, mas é demasiado tarde para formar comportamentos de homens e mulheres decentes, de um mundo novo de paz e de respeito mútuo entre seres humanos civilizados.

Fevereiro 3, 2025 . 16:00

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