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Mulheres dominam setor cooperativo, mas são apenas 26% nos órgãos sociais
As mulheres estão em maioria entre os trabalhadores no setor cooperativo, mas sub-representadas nos órgãos sociais, não ultrapassando os 26%, revela um estudo nacional que propõe igualdade remuneratória ou imposição de medidas para que mulheres ascendam a cargos dirigentes.
De acordo com o estudo 'Igualdade entre mulheres e homens no setor cooperativo', que é divulgado hoje num webinar sobre o mesmo tema, os homens estão em maioria nos vários órgãos sociais, enquanto as mulheres estão em maioria no universo de trabalhadores.
O estudo, da autoria de uma equipa de investigação do Centro de Investigação em Sociologia Económica e Organizações (SOCIUS), do ISEG-Universidade de Lisboa, a pedido da Confederação Cooperativa Portuguesa (CONFECOOP), dá conta que existe “uma expressiva sub-representação de mulheres em 2019 e 2021” no total dos órgãos sociais das cooperativas com dados no Portal de Credenciação.
No total, a representação de mulheres nos órgãos sociais atingia os 23,9% em 2019 e subia para 25,3% em 2021. Olhando para os vários órgãos sociais, e tendo como referência o ano de 2021, a representação de mulheres na mesa da assembleia geral era de 27,7%, no órgão de administração de 25,1% e no órgão de fiscalização de 24,3%.
Uma distribuição que sofre oscilações consoante o setor de atividade e que tem nos extremos o setor das pescas, no qual as mulheres representam apenas 2,1% dos lugares nos órgãos sociais, e do artesanato, em que, por oposição, as mulheres têm 87,9% do total de cargos.
No meio, o setor social, a produção operária ou o ensino, que “são aqueles com uma representação mais equilibrada de mulheres e homens nos órgãos sociais”.
Por outro lado, e enquanto os homens dominam nos órgãos sociais, “as mulheres estão em maior proporção” na amostra de trabalhadores nas cooperativas registadas, representando 57,6% em 2019 e 58,7% em 2021, sendo o ramo cooperativo do artesanato o mais feminizado, com 100% de trabalhadoras mulheres.
“Segue-se o da solidariedade social (83,6% de trabalhadoras, face a 16,4% de trabalhadores), sendo o pódio fechado pelo ramo do consumo (75,3% de trabalhadoras, face a 23,7% de trabalhadores)”, lê-se no estudo.
O estudo recorreu à análise da informação dos quadros de pessoal 2021, por causa da “escassez de informação desagregada por sexo para o setor cooperativo”, tendo analisado uma subamostra de 19.052 trabalhadores de um total de 874 entidades, o que representará cerca de 41% do setor cooperativo nacional.
Estes dados mostram que há mais trabalhadoras (60,4%) e com níveis de escolaridade superiores aos dos colegas do sexo masculino, “com perto de 40% a deterem um curso superior, face a menos de 30% dos homens”.
O estudo identificou também desigualdade salarial entre homens e mulheres, “seja considerando a remuneração média mensal base, em que auferem -78,93€/mês que os homens (-7,18%) ou o ganho, (remuneração base + prémios e subsídios regulares + remuneração por trabalho suplementar) com uma disparidade de -147,34€/mês face aos seus pares do sexo masculino (-11,25%)”.
A análise permitiu perceber que a desigualdade salarial é transversal a todos os níveis de escolaridade, “em particular no mais elevado, correspondente a trabalhadores com o ensino superior”, em que as mulheres auferem menos 337,21 euros por mês de remuneração base e menos 414,38 no ganho.
O estudo deixa várias recomendações como a “imposição de mecanismos formais de representação equilibrada (vulgo quotas) de mulheres e homens nos órgãos sociais e/ou cargos dirigentes das cooperativas”, formação, elaboração de um relatório trienal sobre as remunerações ou realização de reuniões com os trabalhadores e trabalhadoras para discutir questões sobre igualdade, conciliação familiar ou proteção na parentalidade.
Propõe igualmente que haja reuniões para discutir as políticas de remuneração ou a criação de procedimentos para denúncia de casos de discriminação.
Sugere ainda a realização de auditorias de género e a “promoção de uma cultura inclusiva que desafie estereótipos de género e proporcione iguais oportunidades de progressão na carreira para mulheres e homens”.