Última Hora

Está na Hora de Mudar

Março 26, 2025 . 17:00
Opinião: “Mais do que a instabilidade política, há um problema maior: o conformismo da sociedade. O desinteresse reflete-se na abstenção, que aumenta eleição após eleição. O povo, que outrora se ergueu para derrubar uma ditadura, agora permanece apático, refém de um sistema que pouco ou nada muda”.

Portugal prepara-se para mais umas eleições antecipadas, consequência de mais uma crise política. Se olharmos para os últimos anos, percebemos que vivemos num ciclo vicioso, onde os governos caem, mas as mudanças são superficiais. Primeiro, tivemos uma coligação improvável – a "Geringonça" – que, apesar das divergências, governou um mandato inteiro. Depois, veio a maioria absoluta do PS, que ruiu envolta em suspeitas de corrupção e escândalos políticos. Seguiu-se um governo de curta duração, liderado por Luís Montenegro, que caiu porque a moção de confiança que apresentou ao Parlamento foi rejeitada. A ironia? As mesmas forças políticas que recusaram moções de censura anteriores acabaram por derrubar o governo quando lhes convinha.
Agora, estamos novamente a caminho das urnas, mas com que expectativas? Durante décadas, PS e PSD alternaram no poder, criando a ilusão de escolha democrática. No entanto, as diferenças entre ambos são cada vez mais ténues. O jogo político resume-se a uma disputa de lugares, à troca de acusações e a promessas recicladas. O país continua estagnado, preso às mesmas dificuldades estruturais. Cada governo culpa o anterior pela falta de soluções, mas quando chega ao poder, pouco muda.
Mais do que a instabilidade política, há um problema maior: o conformismo da sociedade. O desinteresse reflete-se na abstenção, que aumenta eleição após eleição. O povo, que outrora se ergueu para derrubar uma ditadura, agora permanece apático, refém de um sistema que pouco ou nada muda. O discurso é sempre o mesmo: “são todos iguais” ou “para quê votar?”. E enquanto se perpetua esta mentalidade, continuamos a entregar o país aos mesmos protagonistas, esperando resultados diferentes.
E quando surge uma voz fora do costume, uma proposta que desafia o binário PS-PSD, rapidamente é silenciada ou desacreditada. O sistema reage com desconfiança, rotulando qualquer alternativa como perigosa, populista ou inconsequente. Não se discute o mérito das ideias, discute-se a ameaça que representam à estabilidade instalada. Assim, em vez de ouvirmos, bloqueamos. Em vez de testarmos, condenamos. E qualquer tentativa de renovação é sufocada antes sequer de poder provar o seu valor.
Portugal enfrenta uma encruzilhada. As eleições de 18 de maio não são apenas sobre quem governará nos próximos anos, mas sobre o país que queremos construir. Não basta lamentar a corrupção, a inércia ou as promessas vazias – é preciso agir. Não podemos continuar reféns de um sistema que apenas alterna protagonistas, mas mantém os mesmos vícios. A mudança não começa nos corredores do poder, mas sim em cada um de nós: na forma como votamos, na exigência que colocamos em quem nos representa, no exemplo que damos. Se queremos um país mais justo, temos de ser cidadãos mais conscientes, mais rigorosos, mais exigentes. O comodismo de esperar que outros resolvam por nós só perpetua este ciclo. Está na hora de quebrá-lo. Caso contrário, daqui a quatro anos estaremos a discutir os mesmos problemas, com as mesmas caras, e a fingir surpresa com os mesmos resultados.
"Quando os justos governam, o povo se alegra; mas quando o ímpio domina, o povo geme."
Mas isto sou eu.

Março 26, 2025 . 17:00

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