Mais de 100 lesados do BES morreram à espera de justiça
O advogado de milhares de lesados do BES, Nuno Silva Vieira, avisou hoje o tribunal para a morosidade do processo desde o colapso do Grupo Espírito Santo em 2014, sublinhando que mais de 100 lesados morreram sem recuperar o dinheiro.
“Os bens arrestados, ainda que à ordem do processo, só existem porque milhares de pessoas sofreram as consequências atrozes de vários crimes. Mais de 100 dos meus clientes já faleceram ao longo deste processo. São vítimas que partiram sem ver justiça feita, sem que os seus direitos fossem devidamente reconhecidos”, afirmou o mandatário nas exposições introdutórias realizadas na primeira sessão do julgamento no Juízo Central Criminal de Lisboa.
Nuno Silva Vieira salientou que “o foco principal deve ser a reparação das vítimas”, assinalando que o problema da recuperação do dinheiro perdido pelas vítimas no colapso do GES já passou para as gerações seguintes.
“O que mais nos preocupa é que, a este ritmo, não sabemos quantos mais 10 anos poderão passar até que este processo tenha um desfecho. E, como bem sabemos, uma justiça que se arrasta por décadas, que não responde às necessidades imediatas das vítimas, deixa de ser justiça”, acrescentou ainda o mandatário.
Entre os assistentes que falaram na sessão da manhã esteve também o advogado Ricardo Sá Fernandes, em representação de um cliente que perdeu 20 milhões de euros e que assumiu ter “as maiores reservas” de que Ricardo Salgado possa ser julgado criminalmente devido ao estado de saúde.
O antigo presidente do BES, Ricardo Salgado, é o principal arguido do caso BES/GES e responde em tribunal por 62 crimes, alegadamente praticados entre 2009 e 2014.
Segundo o Ministério Público, a derrocada do GES terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.